sábado, 18 de dezembro de 2010

Sonoridades, sentimentos e antíteses

Sonoridades, sentimentos e antíteses. Sempre fazem graça na beleza entrelinhada das imagens e sabores paridos pelas palavras.
Escrever é como nascer e morrer. Um ato de solidão única. É o contorno das sombras da alma e o sabor da pele dos sentidos...

Um ato que, muitas vezes, não serve para nada, mas que é inevitável. Tão inevitável quanto se sorrir de paixão e se alterar de raiva.

E no final das contas, escrever sobre o ato de escrever é sempre patético.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Ensaio

Quis, queria e temo ainda querer saber algumas coisas... Bêbados que expulsam suas putas grávidas, nordestinos que constroem edifícios e famílias, vão embora sem terminar, babás que espancam recém-nascidos e alguns assistentes sociais que descobrem casos óbvios.

Chove. E eu penso em beber toda essa cidade com muito éter para melhor pensar sobre o mundo. Passo na sala que passa Brasil Urgente, que de tão urgente, repete as mesmas informações, e recordo de Dostoievsky. Várias prosas russas de outra época refletem esse contemporanismo afetado. Às vezes vejo flores no asfalto.

Às vezes observo nossas vidas e enxergo um grande ensaio com muitos intervalos comerciais que nos fazem comprar produtos que nos dão a sensação de vivos. Um ensaio da vida dentro dela. Um ensaio onde alguns se dão ao luxo de não serem figurantes. Uma redoma. Um ensaio onde só acordamos quando sonhamos. E sonhamos para almejar a vida dentro da vida enquanto ensaiamos...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

(Insônia paulistanesa)

Meu travesseiro é feito de penas de anjos urbanos e pombos sujos. Penas das mais variadas. Mas meu pescoço dói.

Minha nuca pensa "para que tanta pena meu Deus?"
Porém meus braços não perguntam nada. Só querem você.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sêmen te.

Mais um filho inexistente dói no útero da puta que me pariu. Dor que desconheço... E que, confesso, às vezes tento compreender melhor, além das teorias...Mas minha empatia não alcança.

Mais um filho me faz ter o coração abalado. Me faz ter os olhos ardidos mesmo em noites sem sol.

É o aborto que nunca entendi o porquê de não ter sido feito em mim... O mesmo aborto não feito pela mãe de Beethoven.

Que jamais entenderei. E que sempre me faz chorar para dentro desse eu-Primavera que jamais será um eu-Outono.

Pré-Natal

Chega o inferno em nome dum estipulado nascimento divino...

Chega o carnaval de lâmpadas

Que sambam nos meus olhos

Que "alegorizam" minha mente

Que dou quesito abaixo de zero nesse calor ardido

Que na anáfora pisca minha cabeça

Um jogo de luz e sombra

E todos assistem só a claridade

Que viram passistas no meu estandarte

Que eu odeio.


domingo, 21 de novembro de 2010

Ma et ciel


Acordei em seu abraço. Seus braços em meu sonho de você fazendo o fundo de minha realidade. Sua soma de presença. O gosto de seu cheiro em minha pele. Seu amor no meu amor...

Em inerte descompasso
Acordei em seus braços
...E levantei ainda sem você.

sábado, 13 de novembro de 2010

3 X 4

Doze doses de aguardente paulista-pernambucana. Esclarecimentos obscuros que me fazem rir em lágrimas pela ridicularidade lúcida das antíteses. Sal nublado rolando pela face. Décima terceira dose em homenagem incompleta do significado. As Megas-Senas injogáveis e sonhos nas cartas das mangas de sulcos adocicados perfeitos. L'amour. E reticências pro destino numa única determinação tão múltipla em si. ..

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sino dos ventres


E os hálitos quentes sobem ao céu
Haurindo ventania de água ardente com mel
Me abro flor de Primavera,
colhendo frutos
de sementes estéreis no pensar...

Teço a pele do amar
Em teia
em sépia
poeira gelada no verão


Na certa só quero dar,
miscigenada por todos esses gostos,
o carinho da quinta estação...

sábado, 23 de outubro de 2010

Belle






















Déni de Dieu déni du diable

incapable d'être coupable
tu es belle
indéniable
Tu es belle comme la mer et la Terre
avant la prolifération humaine
Et pourtant tu es femme
Tu es belle comme le vent qu'on ne peut voir
belle comme le matin et le soir
Tu es belle et tu n'es pas la seule
Tu es belle entre les belles mais dans la ribambelle
des belles tu n'es pas l'étoile
Tu es l'une d'elles
la mienne
et pourtant tu ne m'appartiens pas
Mais tu es la seule île déserte
où je pourrais vivre avec toi.



- Jacques Prévert -

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Sonho

Não era para eu ter dormido nesta manhã. Matei trabalho por inconsequência... Mas isso me proporcionou a visão do vídeo mais lindo de minha vida.


Eu mexia no computador. Estava numa mesinha que ficava entre a cozinha e a sala dum lugar que eu morava. Cozinha do lado esquerdo, sala do direito. Mãe na cozinha; irmão na sala. Sem querer, clickei no Skype e liguei para Ela. Ela estava off. Eu nem sabia. Então disse por mensagem que estava fazendo um trabalho acadêmico. Envergonhada pelo incidente,, eu não sabia o que fazer. Minha mãe na cozinha, o cara na sala.. O som do computador estava nas caixas de som, fui correndo pôr um fone. Alors, Ela pôs um vídeo na tela, me pegou de surpresa. Ela linda, muito linda com uma vergonha dura sobre sua beleza. E o vídeo carrega:

Folhas, árvores de mata ou bosque. Digo alguma coisa e ela responde algo como "porque eu te amo". Cena linda. Alors, aparece em sua casa naturalmente com aquela dureza íntima no semblante. Sua irmã toma conta da cena e fala comigo. Comento, com meus pensamentos transpostos em fala, que são parecidas com cabelos, roupas e olhares distintos. Alors vejo as outras irmãs. Com aquela 'parecidisse estética' que só irmãos consanguíneos têm. Mas Ela era (e é) a mais bonita e bela e linda de todas... Então o vídeo continua. E uma das cenas era de duas negras fazendo amor. E mais que seus olhos as bocas eram mostradas e o prazer se via nelas. Nos vi. Vi as expressões lá. E fiquei boquiaberta. Depois uma outra cena linda que se desmanchava. Era um vídeo muito bem produzido. E eu estava tão maravilhada que voltei o vídeo antes mesmo de ele acabar. E voltei, e voltei.. Até que havia compreendido melhor o que era dito na primeira cena. Alors reparei que ela estava 'vestida de mim'. Com uma das camisas listradas e blusa fina por cima, mas uma calça preta que não tenho. E tentei compreender o motivo de Ela ter se vestido de assim em tal cena. Eu revia as cenas sem conseguir chegar no fim, tanto era o misto de ansiedade com maravilhação...

Mas infelizmente não me lembro mais delas, só lembro que foram as imagens mais lindas que já vi... As mais magníficas...

Ainda estou maravilhada, mesmo sem me lembrar... E mais apaixonada.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Divina Tragicomédia Humana ou FILA DO BANCO

"...As pessoas são cômicas. Não sabem fazer fila... Parecem imãs que grudam no rabo do último. E sempre procuram encostar o corpo em qualquer canto.
Acho que o primeiro bípede que lutou contra a gravidade está desapontadíssimo.
Deixaremos de ser bípedes...! Sim..."

- Próximo! Documento de Identidade. Assine aqui, por favor... ... ... ... . . . Não há saldo.

domingo, 17 de outubro de 2010

Carta a Ninguém ou talvez a um Suspiro.


Iniciei a leitura de Crime e Castigo. Uma breve homenagem sobre o que sinto.
:Crime por pensar demais. Castigo pelas consequências dos atos que se transformam a partir desses pensamentos...

Talvez.

Encontrei mais um amor correspondido nessa madrugada, na minha vida.
E as pessoas são tão humanas que para amar devemos ter estômago antes do coração.

Crime por pensar. Castigo por acreditar no que se pensa. O Haver.

Estou a sentir novamente a pulsação enérgica vital de meu espírito em mim. E essa força imanente chega além de minha pele às vezes tão flor...
Como Love Bizare Triangle ...

As energias da argumentação não estão repostas com meu silêncio gostoso na língua.
E essa subjetividade não importa tão intensamente a ninguém além do Suspiro sentimental por mim.

Crime de sentir. Castigo por pensar (n)o que se sente.

Olho pro cortes de minha mão. Lembro, depois, penso. Venho machucado tanto essa mão. Tamanha é minha pulsão...
Como alguém tão gauche concentra sua força no lado direito?

Quem sou eu afinal, além de mim?

Aproveitei um pouco dessa imanência de espírito e pedalei ao vento atmosférico do meu corpo. Movimento sob nublação asfaltica. E as árvores que derrubavam suas folhas em mim me fizeram lembrar do amor inesquecível de Ossain.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ela. Aí. Né?


Ela aí tão longe... E meu silêncio faz a distância de milhas de estradas em construção. Tem linda alma poética. Beleza significante. Simples em complexo olhar negro-enigmático.
Seus olhos que desviam não são os mesmos que transpiram os sussurros que terei... Uma inexatidão com toda a certeza.
Ela aí. Eu aqui. Elaí, né? Suportantando meu francês de subúrbio inventivo. Ma. Um anjo. Ciel...
Eu aqui tão perto de tudo. E de nada que te alcança.
Meus jovens passos patinadores. Seu olhar nuvem que me traz o chão novamente.
'Seu' não... Dela.
DEla lá. Ela... Elaine.

sábado, 9 de outubro de 2010

Mágica

Um som de gaita de foles grita oʃanguian obàluáyê eueu assa. Penetra fundo uma sonata-romance.

O-Daiko compõe o ritmo que bombeia o mais íntimo vermelho duma alma impenetrável. Escala espírito. Partitura no cume da caixinha sem fundo dos pensamentos.

Sussurro.

Discernimento.

Martelo.

Bigorna.

Cortina de sinos.

Vento.

Que me deixa muda depois da sinfonia

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Escola.

Ontem. Estava eu submersa no mais raso de mim, subindo as escadas. Boca colada. Cenho fechado.
Crianças desciam.
Me afastei. Mal humorada.
De repente uma menininha me cutucou, olhou em meus olhos e disse "Você é muito bonita".
Totalmente surpreendida.. Ainda sorrio de boba diante da magia que só as crianças possuem.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

[fragmento vermelho na memória]

O canto de Ossanha na boca de Vênus gritando Evoé.

Pintando Orixás

6h27. Três horas de lapso negro. Alguns chamam isso de sono.
.
O canto de Omulu ecoa no martelo-bigorna de minhas mãos.
.
Um moço que dançou ʃangô na boca lasciva de meus olhos..
.
A explicação de uma carta inexplicável no meu pulmão.
.
Ewa tem uma lágrima na pintura da bolsa de flechas.

. . .

O hálito da boca de meus olhos cheia de éter pela madrugada pinta a parede em branco numa conversa a distância.

Uma lágrima. Uma flechada. Me cubro de palha. E danço inerte as imagens dançadas.
.
Sento num pedaço de tronco sem vida para esquecer as lembrancas dançantes enquanto crianças criam nuances histéricos.


Sou omulu sem palha. Com muitas flechas.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

(Confissão Inútil)

Não importa, mas preciso me recordar.

Hoje acordei lamentando ter que ir trabalhar. Comme tout les jours...

Um sonho ruim. Um sono péssimo. Cara inchada e dores. Essência exposta à flor da pele que desabrocha nesse setembro de doida Primavera.

Hoje acordei. Reclamando. Mas me dei ao luxo de. E não fui trabalhar.

Luxo de ficar em silêncio.

Quatro partes espatifadas em meu peito.

Norte
Sul
Leste
Oeste.

E calada serei mais. É melhor.

Música.


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

As lágrimas não se simplificam, eu sei. Nous savons. ..
E... Eu não chorei hoje até daqui a pouco. Daqui a pouco morro mais um pouco. Daqui a pouco o grito que me é um soco no estômago rompe em raiva. E antes o tédio que um soco no estômago.. Mas daqui a pouco eu morro de novo. Me quebro na face diante da injustiça. Me perco no Haver.

Daqui a pouco morre mais um minuto. Afora um segundo. E agora. E afora. E aflora .. Menos um segundo e minuto e hora. Sopro.
Só para te ver. Só não posso dizer que é para te sentir ...

Um sopro a menos. Hoje, um minuto a menos para te ver. Depois, um minuto a menos para que o "te ver"acabe .... . . . . E quero que isso acabe. Nous avons.

sábado, 28 de agosto de 2010

QUANDO JÁ NÃO TIVERMOS OLHOS

Em algumas décadas, talvez, a Lua será obsoleta
e os amantes já não saberão apreciar
a mutação das nuvens e o cantar do grilo
em noite de lua cheia.
O amor se derramará no vazio
e não haverá passos delicados sobre a relva,
nem suspiros ao leve toque da brisa.
Quando nos cansarmos da paisagem,
não fecharemos os olhos: desligaremos a TV.
E nossa alma, então, poderá ser enrolada
como um tapete gasto
e atirada no fundo do armário.
De que nos servirá a alma
quando ja não tivermos olhos
para a dança das nuvens e da Lua
numa noite de primavera?



(Eduardo Alves da Costa)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Agendas.

Numa manhã vagabunda de sol viajo em mim. Me dou ao luxo de.

Estou sempre a me dar ao luxo mesmo que seja também tão rígida. E que não seja obrigatóriamente entendível quando já é por si um fato. Um dos...

Fui pra 2006 com a intenção de queimar os olhos que se transformaram em palavras para eternizar este passado em minha vida. Mas é provável que eu continue a guardar... Pra não me esquecer que fui. Muito esqueço o que aprendo.


Impossível não pensar ainda mais no amor.
.
.
.

Pensar no amor eternamente presente sem comparar ao passado é uma arte que domino. I think that.

Hoje pretendo me esquecer pra melhor me sentir.

Mas escrever cem por cento livremente sem pensar que o que escrevo será visto por menos de dois olhos é uma arte em construção às vezes quase sempre.

- Parei no suicídio -


quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Kind violence

Stay in the bord of my soul
fall on flood away
inside all
the oblivions
of thousand of millions
to the omissions
and look
carbons into
your essence
, to emerge a cinema behind the wall
that fall on flood
in the mood hidden
the freak-common law
Kind violence
of the human existence ...

domingo, 11 de julho de 2010

Cordas e arcos.

Da mesma forma que uma estrela explode quando atinge o seu ponto máximo de brilho, uma corda se arrebenta quando está no ponto máximo de afinação.

Cordas arrebentadas não produzem som. Imagine aquela brincadeira antiga de fazer telefones com latas e um barbante. Se esse barbante estiver rompido não será emitido o som de um lugar ao outro através de suas vibrações.

Não, não somos capazes de extrair notas de uma corda rompida. Mas podemos gritar...
-
O som desafinado vem das cordas frouxas. Por mais que não estejam prestes a se arrebentarem, nada diz que não há possibilidade de escaparem.

É possível imaginar até onde vai a resistência de um vínculo. Sim. Mas não é possível determinar simplesmente.

E o que podemos dizer dos emaranhados quando imaginamos que a profundidade de um abismo é tão intensa que o fundo está longe demais de nossos ouvidos para que sejamos capazes de ouvir música??

sexta-feira, 9 de julho de 2010

"...Tântalo também é, e mais simplesmente, o símbolo do desejo incessante, irreprimível, jamais saciado, pois a eterna insatisfação está na natureza do homem. à medida que se aproxima do objeto de seu desejo, este se furta e a ávida busca prossegue sem fim."

[Rien]

Tento controlar os impulsos de meus pensamentos tornando-os em apenas pensamentos.
Eu tentei. Eu tento. Eu tempo.

Mas nem sempre deixo as ideias virarem vapores a cair nos ralos do inconsciente. ..

Transcendi.

Bueiros.
Guias.


Não posso dizer que encontrei todos os resultados, mas garanto que encontro sempre mais elementos para compor os meus cálculos... (E haveria melhor forma para estarmos próximos de descobrir o elemento X?!)

De qualquer forma,, até hoje não compreendo por que é que quarta e sábado são os dias elegidos da feijoada.


terça-feira, 29 de junho de 2010

"Teardrop on the fire of a confession"

Tudo o que passa por nós se torna inexistente justamente porque tudo o que não seja presente: não existe.

São os sentimentos que nos fazem pontos de ligação. A ligação desses pontos são fios invisíveis que chamamos de 'vínculo' (alguns chamam de 'amor' dentre outras nomenclaturas que designam sentimentos).
Um fio quando rijo está mais propenso a arrebentar-se (mas é esticada que a corda faz a música). Da mesma forma, os vários fios, quando frouxos, estão mais propensos ao emaranhado (alguns dizem 'ao abismo').

E os laços tornam vínculos. Quando nos tratamos de corda, a forma mais perfeita de se fazer um laço é : forca.

A propensão de um emaranhado ocorrer é maior quando os fios estão soltos.

Eu consegui fazer emaranhado com os fios presos ...
.
.
"Noite de cinzas". Meia noite e cinquenta.
.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

[Fragmento] - DOIS PROFESSORES ANTES DE GREVE

- Não irá?
- Não.
- Esperava outra postura de alguém que se mostrava tão inteligente.. .
- Que é que havia-se de esperar?
- Que participasse !
- Lamento que eu não tenha superado as suas expectativas quanto a minha inteligência, por você, assim como lamento ser tão sensível, por mim... Vocês não reivindicam a verdadeira estruturação ideológica sobre as nossas (e várias outras) vidas. Reivindicam melhores salários.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

02.06.10 22h41



Numa devida época da abstinência necessária, pasmo. Em toda a tarde branca. Plus une fois.
Minha mão esquerda em dedos congelados e a direita queimando. Queimar remete sempre a fogo. Polaridades. Libra. Sagitário. Caranguejo. O Vermelho e o Negro. O Transparente e o Bordô. Outono exterior; Primavera interior. Nada de Capricórnio que é um trópico paralelo ao de Câncer e meu ascendente. Toca Pornography, leve. Uma agenda virgem na minha frente. Nenhuma mínima obrigação cumprida. Maçã. Aguardente vagabunda deificada como prata bem talhada em corpo bem materializado. Dia 31 de maio e 1º. de junho que devem ser escritos. Hoje é dois. Agora três.. Mesmo assim quisera eu que fosse trinta. Mesmo sem grana.

Minha Primavera conserva a rosa que morreria num ônibus de viagem São Paulo-Minas em mil escalas consecutivas.
Uma agenda virgem, uma maçã. A desvirginei sem escrever nela. Tudo de Elaine em mim... Um tudo que não sei, mas que me atrevo a dizer que é grande e imenso por não parecer me caber e ao mesmo tempo não escapar de mim.. Um tudo que me atrevo a chamar de grande pela vaguidão de seu nome. Um tudo que sinto e abranjo em chamar de imenso sem ser só, por ser soma. E sendo soma, deveras, é.

A rolha, o aroma de maçã disfarçando a aguardente com a suavidade de um beijo, meu pai, meu não-destino, minha gatunisse, a escola, minha educação, a faculdade, les voyages, meus óculos, meus ósculos, o planeta Terra sem a lua, o mar, a difusa sinapse neural, minhas deficiências, as definições e a escrita automática, o surrealismo de Aragon, os sussurros na calçadas, os gritos cores, números, mandalas, a consciência de ouvir um culto que professora chamar as interligações que observo de 'viagens' como se fossem 'apenas'... O ad-mor, a filologia e os etcs, música, teatro sem atores, poesia em parágrafos, circo, solidão correspondida. O último gole.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Chevalier me fez paixão. Estou namorando o Dicionário de Símbolos. E esperando pelo romance com a vida.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Poemeto Hermético.

Já não sei donde
são feitos os calos dos pés
quando
a mente faz a predominância estática.

Peguei o band-aid velho que descolava
no calcanhar de Clarisse
, ajoelhei em pé
e
me senti Oyassama.

La rue 16 Lile pisou me mim. E
não pude dormir tranquila
a noite

por querer o bem.


Quedei-me sete
, levantei oito.

Ajoelhei-me em pé e me senti
Oyassama

.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Narrativa.

Estava eu numa escola, numa E.E., nem como uma medrosa aspirante a professora, nem como a aluna que fui e que vi nos jovens que passavam.

Eu, sentada, num banco duro e velho recém pintado lendo A Maçã no Escuro, observando o ambiente simultaneamente.

Um garoto da oitava série sentou-se ao meu lado. Boné, bermuda e agressividade. (É o máximo quando parecemos ser mais fortes perante os menores. Provavelmente espancou algum aluno de série anterior a sua.) Era eu ali uma peça do cenário para ele; era ele ali um futuro aluno meu.

Lá estava eu, sentada, num banco duro e velho recém pintado, lendo A Maçã no Escuro.

Uma mulher com cara de mal amada gritou com ele como se grita como um mero delinquente.
(Como se pode publicar frases que dizem que os 'sem luz' são o futuro da nação...?) Ela disse que era pra ele ficar sentado no banco e que ficaria ali a tarde toda e que daria um livro para ele ler a tarde toda, como se fosse uma punição dar livros aos jovens. (E infelizmente hoje em dia é.) Quis gritar.

Lá estava eu, sentada, num banco duro e velho recém pintado lendo A Maçã no Escuro e uma outra mais mal amada disse alto com dois outros alunos da quinta série que brigavam pela segunda vez que a Escola não tem nada a resolver sobre o comportamento dos alunos, que a escola é um lugar de estudar apenas, que se deve chamar os pais e que eles se resolvam sobre seus filhos, que a dona Escola não tem nada a ver com isso. Quis gritar.

Alors, a Escola é um lugar que contratam um monte de mulheres mal amadas que não querem resolver nada, que só quererm passar a bola para os pais e a mesma coisa fazem os pais que dão todo o peso da educação para as escolas.. Quis gritar. Se sozinhos os pais soubessem educar seus filhos, já o teriam feito antes de darem trabalho aos profissionais de uma instituição de ensino, não?! Quis gritar.

Como poderia me concentrar numa leitura se fazendo isso eu teria que descartar o meu redor? Não, não poderia. Ou poderia. Poderia sim. Mas de que valeria mergulhar-me em toda a sensibilidade atmosférica de Clarice Lispector se eu me tornasse insensível com a própria vida que me ronda ao redor para isso?

O menino da oitava mandava a coordenadora do ensino fundamental se foder pelas costas e queria sair e queria fugir e atirava sua mochila com agressividade e a chutava e chamava aquele lugar de lixo. Quis rir. Rimos do absurdo quando não sabemos mais fazer cara de espanto.

E quase sofri uma epifania. Uma epifania dura e áspera que jamais me faria alcançar o nirvana. Uma epifania que fosse um balde de água me acordando de forma dolorosa. Mas um quase não é um todo. Foi como um orgasmo inverso interrompido.
.
.

Alors aquela mesma mulher, com cara de mal amada e que fora mandada se foder pelas costas, se apresentou a mim como se fosse o amor em pessoa. E eu demorei mais de uma hora para ver algo que duraria menos de quinze minutos.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A paixão ...

Derniére anée de la faculté. Cheguei atrasada numa palestra de filosofia básica para acadêmicos. Me injuriei, assinei a lista de presença e fui embora. Ia ver Mônica Rodrigues em Diadema City. E fui.
Sentei num banco do tróleibus no lado da janela. Tinha um cheiro de mendigo lá. Não tampei o nariz, eu pensei: é isso que nós somos.
Peguei outro ônibus na outra estação. Sentei na janela. Sentou uma velha gorda do meu lado. Com ela veio um odor de genital mal lavada misturado com sabão em pedaço. Ela segurava com as duas mãos o ferro do banco da frente como se não tivesse equilíbrio algum e como se aquilo a protegesse de um acidente ou freiada forte. Suas unhas tinham esmalte escarlate saindo, descascado em todos os dedos. Mão enrugadas. Sentindo seu cheiro pensei: é isso o que somos. Vendo suas unhas pensei: E para que a vaidade escarlate? Que sentido faz?
Seu cheiro e o abafado do fim de tarde me faziam achar que estava comprimida à janela, mas não estava. Sua coxa esquerda estava colada à minha coxa direita,, e estava suada. Parecia que eu estava comprimida, mas não estava.
Finalmente levantou do banco e desceu. Com ela não foi todo o cheiro. Parecia que o banco exalava a presença que o ocupou. O abafado de fim de tarde, o banco que fedia a genital mal lavada, o banco do tróleibus que fedia a mendigo. Eu sentei no colo do mendigo. Eu toco na mão do mendigo e do criminoso quando pego no fone do orelhão. Quase sempre, quase sempre ...
Qualquer um que não tome banho terá aqueles cheiros. Cada um que use sabão em pedaço ou Jean-Paul Gautier.
Não evitei, sentei no mesmo banco que aquela mulher. É isso que nós somos. Me senti G.H.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Au plus tôt, aucun de moi voulons penser pour qui n'esxintent. Et les possibilités sont porcions invisibles qui pouvons salir yeux...Maintenant... Tout de suit
, amour

sexta-feira, 12 de março de 2010

Um cego mascando chiclete...

11/03/10 [en la faculté]


Não me segurei como o costume quase diário. Ele caiu da mente absorta pra essa mão esquerda que se enclausura no desafio de 'não-agenda' em dois mil e dez, o amor.

É mais fácil que eu cale a boca e endureça a língua do que que não escreva absolutamente nada, nem sobre besteiras que fico a pensar muitas vezes.

Eis-me aqui: morrendo nesta folha de fichário que teria a sorte de ter o preenchimento quase que desinteressado sobre alguma aula. Pourtant, desde os meus doze anos, eu ouvi dizer que não se pode prever o que é mutável ..

Mesmo tendo tal consciência, tive que errar muito pra perceber que não devo afirmar com tanta veemência as coisas.
Um exemplo? O amor.

O famoso amor que é um cego mascando chiclete e ignoramos. O famoso amor que faz os adolescentes se acharem poetas. O mesmo amor que pede provas, sendo ele um inevitável infinito-abstrato.

Como podemos jurar o sempre? Por isso que agora dizemos conformados que 'o sempre acaba'.
Somos lindamente hipócritas pelo hipnotismo. É lindo jurar por daqui a dez anos só porque parecemos sentir por mais de uma vida...

Não sabemos o que vamos comer amanhã, mas temos certeza plena daquilo que haveremos de sentir pro resto da vida... Por causa do momento.

Que eu seja 'dura, 'amarga', 'rude', mas hipócrita jamais.
Não que seja hipócrita aquele que não enxerga por não enxergar, mas se viu, aliás, se ouvir, com a própria voz que é feita na cabeça quando lê as palavras minhas, e se permitir ser cego vendo... Eu-não-perdoo.

Não prometo mais o que não sei. Você promete?



Posso dizer que amarei pro resto da vida quando souber que hoje morro. Et quelque autre chose.

terça-feira, 9 de março de 2010

Inutilidade no meio da tarde.

Dizem que o dicionário é sempre útil. O meu sempre é às vezes em quase tudo. Quando não é às vezes, já acabou.

Eu quis cura. Restou procurá-la no dicionário.

A cura lá é ato ou efeito se curar(-se). Curar é restabelecer a saúde (de).
Ter saúde é estar em bom estado físico e mental cuja qualidade vem do que é são ou sadio. Ser são é ser aquele que goza de boa saúde. E o sadio também.

Pensando que quem tem a saúde reestabelecida, o curado, se opõe ao doente, acabei vendo que o doente não é aquele que não é curado, mas aquele que tem doença. Débil, fraco, enfermo. pop Apaixonado.

Espero nunca dizer que o dicionário da língua nativa é um companheiro de masturbação mental. ..

quarta-feira, 3 de março de 2010

...

É o Silêncio...



É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa.

Olha-me a estante em cada livro que olha.

E a luz nalgum volume sobre a mesa...

Mas o sangue da luz em cada folha.

Não sei se é mesmo a minha mão que molha

A pena, ou mesmo o instinto que a tem presa.

Penso um presente, num passado. E enfolha

A natureza tua natureza.

Mas é um bulir das cousas... Comovido

Pego da pena, iludo-me que traço

A ilusão de um sentido e outro sentido.

Tão longe vai!

Tão longe se aveluda esse teu passo,

Asa que o ouvido anima...

E a câmara muda. E a sala muda, muda...

Àfonamente rufa. A asa da rima

Paira-me no ar. Quedo-me como um Buda

Novo, um fantasma ao som que se aproxima.

Cresce-me a estante como quem sacuda

Um pesadelo de papéis acima... ......................................................................

E abro a janela. Ainda a lua esfia

últimas notas trêmulas... O dia

Tarde florescerá pela montanha.

E ó minha amada, o sentimento é cego...

Vês? Colaboram na saudade a aranha,

Patas de um gato e as asas de um morcego.

( Pedro Kilkerry )

segunda-feira, 1 de março de 2010

Mélange

Uma melancolia profunda domina o céu. Sinto-me 'a mulher mais feliz do mundo' e a garota com a maior tristeza vaga e persistente ao mesmo tempo. Tempo que chove fino. Chuva de outono no verão que faz flores aromáticas invisíveis brotar na neve inversa de meus cabelos ...

Vapores de pulmão asmático exalam essa inércia. Uma agitação entorpecida que faz parecer engraçado tantas antíteses que não são contrárias, mas um único elemento miscigenado que ainda não deram nome.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

...

Hoje eu tive um choro circunflexo. Seu topo partiu da agudez da dor que explodiu em raiva. Eu vi ódio nos olhos, eu senti o desprezo por mim no olhar que me agarrava a gola da camisa..

De fato quero me calar.

Acordei após ter dormido bem mal no meio de um sonho em que me preparava pra brigar.. Não sei se pra defender um outro ou eu mesma. Acordei aborrecida, com os olhos ardendo em sono, pensando sobre promessas.

Promessas são dívidas não pagas. Já estou devendo sem prometer muitas coisas a vida toda. Comme tout le monde...
Promessas nos impõem, transformam prazeres que deveriam ser naturais em obrigações. É isso o que são. Alguém me prometendo jamais me fará feliz... Por prometer ... Justamente por 'prometer'. É compreensível.

Vi minha vida escorrendo pelo ralinho da pia do banheiro quando eu estava debruçada. Meu humor não poderia ser outro.

Quero me calar. Quero um templo.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

As notícias cotidianas são de embrulhar o estômago. Faço refeições vendo Jornais. A resistência física parte da psiquíca. Evidente. Pratico celibatos quase diários quando chego num estado além de tentar. Mas isso não é importante. Esse não é o fato, não é o ponto. Não.

Objetos Submersos Não Identificáveis me chamam a atenção como os Voadores Não Identificáveis.. Nem sei se são Objetos, não nego mesmo que não tenha visto por não duvidar, mas não me importo. Céu e água é o mesmo pra mim.

Respiramos o mesmo ar que Da Vinci talvez. Os mesmos milhões de átomos moleculares.

Eu preferi sem dúvida alguma a tortura cruel daqueles que merecem a punição. Então ouvi na aula de Literatura Brasileira que estamos aqui, respirando o ar destes neste momento... Não vou concluir tão cedo, se chegar a concluir.

Estudos comprovam... Está comprovado cientificamente os átomos ou sei lá o que que respiramos e que respiramos. Mas se não tivesse sido não poderia eu dizer e ter autonomia disso?
O amor não tem comprovação científica que não se valha de manifestações fisiológicas.. Só alterações tão comprovadas quanto pressão alta ou gripe. Ah e tem também alterações psíquicas... Mas não se comprova de fato e ninguém contesta que não exista com o mesmo furor que crucificariam um novo Jesus quando já se teve um...

Ah, e quantos Jesuses não morreram... Talvez até mesmo queimados ??

Que seja. Eu amo.