domingo, 16 de janeiro de 2011

(Cadafalso cotidiano)

O sol me atravessando
Amorenando a janela

Um rór de ausência proposital-natural...

Cantos gregorianos enchendo de imensa
paz espiritual
o ritual de minha alma defumada
por Gregório.

Santa Joana, mulher
ouvindo vozes
que só poderiam ser do Deus
que a condenou
pela boca dos homens...

Eu teria morrido de coturnos
sem ir pra guerra.
Je suis le bataillon de (s)ombres
Eu sou o batalhão do grito em voz muda
Eu sou um batalhão de sussurros roucos femininos
(Em)Frágil corpo de moça
pedalando que nem o menino
que queria mudar o mundo
e agora vive em cima do muro
desmoronado de Berlin
com seu monociclo
perna-de-pau
fera sem domador
equilibrista aleijado
bailarina de perna quebrada
mulher barbada nua
sempre de nariz vermelho fosco
sendo passada pelas ruas
atuando ser indivíduo
sendo original
,comprando coisas que são "a minha cara".

...Olhando de auto o asfalto
noto tamanha a minha pequenez...
Só o consumo pode me amenizar...

Consumo de gastrogulofobia
Consumo orgíaco
Consumo artístico
Consumo pseudointelectualista
Consumo macumbeiro
Consumo rebelde-inspirador
Consumo ritualístico
Consumo mântricozemxamânico
Consumo ogan-na-pele
Consumo beatbossanova
Consumo Chico César Caetano Buarque de Hollanda
Consumo de notas não classificatórias
Consumo de notas sem escalas, bem vermelhinhas
Consumo do lance de dados de Beth Brait Alvim que
quando, se Deus quiser, virar bruxa...
Consumo do sangue que ferve pelo sol
da alma que habita essa pele desbotada-desabotoada
Consumo agramático de palavras
Consumo de muito etílico
Consumo pré-rodrigueano em Diadema
Consumo de ventos...
Consumo etéreo de mineira cética-perfeccionista ariana de Ossain
pra toda a vida...
Consumo de meu primeiro mestre,
velho tolo classe média,
matemáticofilosóficogramático
Cometeu suicídio aos poucos...

E o que estou vivendo, senão
uma destruição onde o fogo
me consome
em doses homeopáticas...

O sol amorena a janela
e me atravessa.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Montes Claros I

A língua submersa na falta d’água remedando

A interrupção do nada quebrantado

Cerveja frisando ininteligíveis injúrias racionais

A injúria da fantástica sucessão de dias belos...

Chove na terra do sol enquanto passo protetor.

Pele que sorri ao exalar

Hálito atmosférico

Longitude do asfalto que sussurra

A concisa rebeldia

Sem flor que brota de piche,

Sem pétalas declarando os malmequeres

Lá de longe por toda a parte;

O clandestino eterno do amor nos

Montes de cantos

Montes de beijos

Montes de sussurros sinfônicos em zelo

Montes Claros.

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Montes Claros II

O dia no fim da tarde começa.

Arde o sol tardio

Danço

E me visto de mulher

Natural

Vira complemento de l’amour

Sol na pele

Banho de música

Levanto a saia à alegria

Que me escapa na sucessão de dias belos...

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Montes Claros III

As estrelas de papel

que te dei quando cheguei

Voaram pro céu na minha partida.

Ida de eterno retorno

Eterno mar na sua pele de cachoeira

Línguas diferentes que se entrelaçam no mesmo país...

Nuvem de forma definida

Molha minha camisa

Me enxuga com o seu lençol

Para embalar os sonhos

Que escapam pela janela

Com meu cheiro

No incenso

Enchendo paradas e quilômetros

Fazendo do tempo que corre

Desconhecida cidade

Pisada sem caminhos

Na mais presente inércia futura


E as memórias passadas

Tornadas

Mortes Claras sem sacrifício

Sem crucifixo.