Com tantas coisas
me deixo ao luxo de
parar
Pra impensar
os segundos que escorrem
da janela
No cheiro do gole
que agora me equivale a garrafa
quebrando minha cabeça
em mil e treze peças
teatrais
no corre-corre ignorante paulistanês
me dou ao luxo de.
Parar no trânsito
de minha vida renovada
das cartas vencidas
Pago minhas multas
sem sanar minha vontade
de atropelar
os carros da faixa de pedestres
Dou-me ao luxo
do inevitável engarrafamento de existir
Mas ainda pegarei estradas
retas e desertas
onde o motorista bêbado
me ultrapassará com seu hálito
e capotará
Me dou ao luxo de.
Ser assassina com os pensamentos
enquanto morro de
pânico ao andar nas ruas
vazias como
a engenharia de nosso passado
estruturado por órfãs e fascínoras
salivando meu nome anônimo
que impensa
tão inutilmente
como se pensasse.