segunda-feira, 19 de abril de 2010

Poemeto Hermético.

Já não sei donde
são feitos os calos dos pés
quando
a mente faz a predominância estática.

Peguei o band-aid velho que descolava
no calcanhar de Clarisse
, ajoelhei em pé
e
me senti Oyassama.

La rue 16 Lile pisou me mim. E
não pude dormir tranquila
a noite

por querer o bem.


Quedei-me sete
, levantei oito.

Ajoelhei-me em pé e me senti
Oyassama

.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Narrativa.

Estava eu numa escola, numa E.E., nem como uma medrosa aspirante a professora, nem como a aluna que fui e que vi nos jovens que passavam.

Eu, sentada, num banco duro e velho recém pintado lendo A Maçã no Escuro, observando o ambiente simultaneamente.

Um garoto da oitava série sentou-se ao meu lado. Boné, bermuda e agressividade. (É o máximo quando parecemos ser mais fortes perante os menores. Provavelmente espancou algum aluno de série anterior a sua.) Era eu ali uma peça do cenário para ele; era ele ali um futuro aluno meu.

Lá estava eu, sentada, num banco duro e velho recém pintado, lendo A Maçã no Escuro.

Uma mulher com cara de mal amada gritou com ele como se grita como um mero delinquente.
(Como se pode publicar frases que dizem que os 'sem luz' são o futuro da nação...?) Ela disse que era pra ele ficar sentado no banco e que ficaria ali a tarde toda e que daria um livro para ele ler a tarde toda, como se fosse uma punição dar livros aos jovens. (E infelizmente hoje em dia é.) Quis gritar.

Lá estava eu, sentada, num banco duro e velho recém pintado lendo A Maçã no Escuro e uma outra mais mal amada disse alto com dois outros alunos da quinta série que brigavam pela segunda vez que a Escola não tem nada a resolver sobre o comportamento dos alunos, que a escola é um lugar de estudar apenas, que se deve chamar os pais e que eles se resolvam sobre seus filhos, que a dona Escola não tem nada a ver com isso. Quis gritar.

Alors, a Escola é um lugar que contratam um monte de mulheres mal amadas que não querem resolver nada, que só quererm passar a bola para os pais e a mesma coisa fazem os pais que dão todo o peso da educação para as escolas.. Quis gritar. Se sozinhos os pais soubessem educar seus filhos, já o teriam feito antes de darem trabalho aos profissionais de uma instituição de ensino, não?! Quis gritar.

Como poderia me concentrar numa leitura se fazendo isso eu teria que descartar o meu redor? Não, não poderia. Ou poderia. Poderia sim. Mas de que valeria mergulhar-me em toda a sensibilidade atmosférica de Clarice Lispector se eu me tornasse insensível com a própria vida que me ronda ao redor para isso?

O menino da oitava mandava a coordenadora do ensino fundamental se foder pelas costas e queria sair e queria fugir e atirava sua mochila com agressividade e a chutava e chamava aquele lugar de lixo. Quis rir. Rimos do absurdo quando não sabemos mais fazer cara de espanto.

E quase sofri uma epifania. Uma epifania dura e áspera que jamais me faria alcançar o nirvana. Uma epifania que fosse um balde de água me acordando de forma dolorosa. Mas um quase não é um todo. Foi como um orgasmo inverso interrompido.
.
.

Alors aquela mesma mulher, com cara de mal amada e que fora mandada se foder pelas costas, se apresentou a mim como se fosse o amor em pessoa. E eu demorei mais de uma hora para ver algo que duraria menos de quinze minutos.