quinta-feira, 21 de julho de 2011

NO THING FOR NOTHING

          Ramiro refletia sobre o que as igrejas diziam. Refletia como espelho sujo sobre qual seria a sua missão no mundo.

          Ramiro não sabia que os seus passos vagarosos atrasavam trabalhadores. Não sabia que um instante muda silente vidas mudas.

          Num dia de chuva qualquer Ebony Silva, a moça mais branca que já vi, perdeu um minuto e um carro veloz passou de sacanagem numa poça que imundou ainda quando o semáforo estava amarelo. Ela era muito sensível, para não dizer que era fresca, e foi chorar em casa sobre a roupa enlameada, a chapinha desmanchada...

           Ebony nem imaginava que seu prédio explodira naquela tarde. E Ramiro estava lá. Foi Ramiro que roubou a minuto dela.

          Ramiro roeu a roupa do rei de Roma sem saber. A missão dele era essa.

          Ele viveu banalmente. Poluiu, consumiu e produziu muito lixo. Só. Para salvar aquele instante.

          Ramiro é qualquer um de nós. Emaranhados.

domingo, 3 de julho de 2011

Filha do Pai dos Pescadores

(à Elisângela Melo)


Teus discursos em palanque de mesa de bar
transfusando ideias e ideais.

Tuas análises arquetípicas certeiras

...Lendas reais

Orixás de carne e osso se beijam
no lado esquerdo da cama
,debaixo do livro dedicado a você
que não escrevi

sábado, 2 de julho de 2011

ABRIL

           Dois mil cento e cinquenta e seis desculpas para manter o que a vida mantém em mim. A falta de escolha exigentíssima. A necessidade de ser necessária dando em nada. A escolha de ser escolhida pelo que se escolheu no final das contas. Nada. Uma porção de coisas que não dão lucro servidas em bandeja de boteco. Que não se definem nem numa história concreta para se narrar aos netos que jamais terei. O lusco-fusco. O não.


          Caem os maus concretos de uma história nada sólida recheada de aventuras. Uma, duas, três, mil. Mil e treze raízes amargas para se tragar no copo sujo do bar. Da esquina de meu país que tem palmeiras, botafogo, conrinthians, flamengo, cruzeiro, bem Real..


          Meu país tem zero vírgula cento e cinquenta e cinco (sem trema) de aumento... só de aluguel. Só neste mês. Mas que chato! Tomar raízes amargas e falar de números e sentir na língua  a vida pela garganta que quer falar, pela garganta que escreve. Símbolos ininteligíveis gramaticalizados. Subordinados. Subjetivos. Adversativos. ...


     Balela!


          Vamos é tomar uma cervejinha, botar fogo nas palmeiras cheias de flamingos onde não cantam sabiás. Que tem no estádio em construção. Eterno estádio de choque... Com mulatas louras de todas as raças em qualquer esquina do meu país feliz! Vamos chupar drops de anis! 


                 E esquecer a raíz das palmeiras. Raíz redonda. Do país sem puta que pariu.






                                                                                                                       Vanessa das Morais.