quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

ALUGA-SE


Placas coloridas
Lustres acesos pelo altos
dos asfaltos poeirentos
por abandono.


Aluga-se
um ouvido para minha boca muda
flores na calçada
um sentimento de repouso
para o sempre nunca mais
parcelado como os dias
que virão fiados.

Aluga-se
candelabros no cérebro
Cérbero no portão
Jardim na colcha do colchão
criados-surdos-mudos-cegos...
Clérigos que não te queimem
pela sociedade da saciedade ilícita
imobiliada por séculos incertos.
E esta alma imóvel.


Aluga-se
Dez anos decentes
Porque vinte e três
Não foram suficientes...

Aluga-se
Uma vida
sem ter que comer o pão
que o diabo amassou
como se fosse hóstia
no meio da fome gástrica.

Aluga-se
a brisa que bate
nos galhos dos chifres das árvores,
uma cara de derrotada
e um espírito intrépido.

Aluga-se
um destino torto
com parcelas desgraças

Que precisa de fiador.

Aluga-se:
Uma casa no Norte de Minas
pra morar em São Paulo

Aluga-se
Mais que uma pessoa
verdadeiramente boa no mundo
que te queira o bem mais que tudo
sem te amar.

Porque tá raro esse impossível...

Aluga-se
Um ''onde'' para eu
poder cair morta.
E cremem minha histórianônima
em doses homeopáticas
de miséria suja.

Vende-se
O seu caráter de água
insípida, inodora, inaudita.

Vende-se
O meu caminho bastardo
Aceito por ele
um financiamento de três
salários mínimos por mês
Aceito aulinhas de Inglês
Aceito a comida nossa de cada dia.
Aceito qualquer cavalo desdentado.

Pague e terá!

Você que quis estudar
E, por hora, ganha menos
do que uma prostituta.

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