segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Whisky com guaraná e gelo


Sei que levo carimbo de boi invisível no dorso. Sei que tenho marcas por tanto ímpeto que me vem como explosão dentro de mim, desde sempre. Eu sei que sou um exagero que prega o meio termo. Mas só desejo num querer tamanho até então.

A incerteza do talvez amarra minha garganta. Torna minha língua incapaz. E a boca sela a mente absorta colada na parede do quarto como foto antiga de uma lembrança inexistente.

Queria saber desenhar de verdade para não ter que falar palavra. Eu queria sabe pintar todas as cores só com grafite de lapiseira. E então jamais simular revelar o inexplicável com a inexatidão de uma metáfora.
Eu queria não ter olhos por um décimo de segundo. Nem jamais quis ver o que fala a boca dos olhos de um gesto quando ele dói.

Ainda assim, quando em silêncio fico com almofada comprimida à face. Achava eu que o silêncio era pros sábios. Mas quando silencio, solto; quando falo mato.

Talvez a sabedoria não esteja no silêncio, mas nas horas certas de falar e se calar.

Se calar não é ficar em silêncio. É não dizer.

2 comentários:

  1. Como lhe disse ontem, Querida, ainda não havia visitado o seu blog, vergonhosamente! Redimindo-me de 'mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa', o mínimo que posso dizer é que estou deslumbrada com a forma com que sua literatura tem evoluído ao atravessar do tempo. Sua sintaxe é impecavelmente suntuosa até mesmo no arranjo mais simples (qualidade de toda boa literatura!); impressionam-me a perspicácia de suas metáforas e a sutileza do dizer nas entrelinhas... Se me permite agora uma confissão livre da imparcialidade crítica: por vezes, senti-me arrebatada como quem experimenta de uma catarse, sobretudo em ‘relato de um assassino’, vi a mim como esse ser que tenta ‘encarar as pessoas para se encarar ante elas’... é, talvez, algum dia, eu também escreva um texto póstumo!

    Mais uma vez, obrigada pelo deleite, Chérie!!

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