domingo, 6 de setembro de 2009

Parte VI

Já amei muito também. E isso é uma das coisas mais cômicas de minha vida. Eu já perdoei muitos erros porque imaginava que não estaria livre de cometê-los, afinal sou humano e acreditei nunca me esquecer disso, por mais que eu ponderasse minhas vontades mais intensas na vaidade da perfeição.
Eu acreditava em santos. Todos os meses acendia velas de sete dias, que duram três, e orava por aquelas imagens alvas e ternas..., mas na verdade orava por mim. Os clamores existem pelo interesse que nossas necessidades nos causam, eu confesso.
Temos muito mais maneiras de como demonstrar a tristeza e dor que felicidade.

Quando vi minha condição de homem me encarando explictamente e decidi deixar de ignorá-la, fiquei num dilema se a negaria mais uma vez e sentiria aquela sensação da falta de alguma coisa, mas com a grandiosidade que a resistência nos proporciona, ou se aceitaria de uma vez por todas para me libertar de mim mesmo, de minha falsa santidade, de uma imagme que servia para minha sobrevivência e, ao mesmo tempo, me matava.
Quase me mataram quando decidi viver. Era tão bom quanto dolorido, como contar a verdade sendo ela dura.


Enfim, eu amei... E por desgraça fui correspondido.
Nesta época de vulga cegueira eu já enxergava a verdade. Achava que a grandosidade de um sentimento fosse capaz de fazer com que as pessoas perdoassem em seus elegidos amados o que não perdoariam nos outros. Isso é vestígio de grande ingenuidade. Para ser ingênuo não precisa ser inocente, basta acreditar. (Acreditar é a chave.)

Com este mesmo caso de amor, aprendi que a mentira é necessária até mesmo nos momentos mais sinceros. Parece absurdo, mas é verdade. (A verdade costuma ser absurda porque não convém ..)
Entende agora? Entende por que fui queimado pelos meus próprios padres de confessionário? Espero que não seja o seu caso..
De qualquer forma, aprendi a ser santo depois de queimado, como Joana D'arc.

Hoje em dia, minto quando me convém. Isso não me impede de ver a verdade. E não me incomodo pelos outros, alguns chamariam isso de frialdade se soubessem.
Vejo a perfeição caminhar lado a lado com a frialdade. Quem não sente dor, nem paixão, nem libido, nem raiva, nem inveja, nem possui tendência a quedas pelas tentações, nem vícios, nem tem medos, nem aflições, nem muita fome ou doença, nem sofre e consegue encarar as hediondas injustiças cotidianas de forma pacífica, está em via das condições de ser perfeito, no mínimo canonizado se não puder se livrar de suas compaixões e sofrimentos.

Eu precisei ser uma Joana D'arc varonil.
Varonil? Desculpe-me. Termo pouco usual, não?! Varonil vem de varão, termo que indica masculinidade, encaixando-se somente a homens mesmo, assim como virilidade é típica de homem. Usei isso para que não me julgasse por ter me comparado a uma mulher, afinal qualquer coisa besta é motivo para piadinhas de enrustições gays. Isso é bem pejorativo à imagem do homem perante a todos, como se hoje em dia houvessem cavaleiros medievais com seus brasões e títulos nobres para honrar... Nem isso temos, mas honramo-nos aos olhos até de quem não nos verá nunca mais. E esta mesma sociedade prega que não devemos ter preconceito...

Mas esqueça, a verdade é absurda. É claro.

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