domingo, 22 de maio de 2011

Desabafo Crônico



O corpo, que tanto necessitava da disposição, a segurou na preguiça morna da manhã Outono-Inferno. Era menina e mulher que debaixo do edredon não tinha traços. Era uma delicada foto feminina sem forma.

Abriu os olhos e deixou de ser nuvem. 
(Os sonhos ainda estavam acordados)

Na manhã. Na preguiça morna. No gole do sol nos olhos. Do café fresco. Gosto do futuro no hálito de vapor. De nuvem. Fuligem na estante. Acumulando gritante a calma que pousa pelo desespero da falta de opção...

Sol interestadual a queimar. Inatingível à noite anterior de suposições. Ilusões. Cruéis como a realidade. Piores que o sentimento heróico após um filme. Um crime.

Um sol, no relógio dos olhos claros-escuros, guardado debaixo do edredon. Arquivado na vaidade de lembrar o futuro. Escuro como o gole de café no turno que é quente como o beijo de lembrar mil vezes. Mil e poucos minutos de miragem. Dunas de Santo André. Montes... Imagem de um sentimento heróico após um filme. Uma reflexão.

Levar sem tocar o que mais se sente.

Ela se ressente com essa repetição. O corpo se serve de mais uma dose de café. Doze. Treze. Mil e treze goles diários... O relógio, afastando e aproximando tudo. Os olhos, atrasando tudo. O quarto, mudo. Com o corpo gritando pelo avesso o cochicho das horas na delicada foto feminina. Fé menina.
Incensos não acesos. Daruma de olhos brancos. Brando céu. Gotas no colchão. Um monte de palavras inúteis não ditas. Calada da noite.  

Ela volta para debaixo do edredon. Ela e o corpo: levando sem tocar o que mais se sente. Sendo amor. Sendo nuvem. Sendo ela, sou eu. Ressentindo a repetição.



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